Hoje passei uma por um episódio inédito na vida. Eu pulei por sobre um trem. Vamos aos detalhes.
Eu vim a Kansas City para umas reuniões em relação a um dos projetos que a empresa está envolvida. Viagem correria. Dirigi ontem por umas 8 horas e já emendei numa reunião que durou mais umas 5.
Hoje acordei cedo e fui ao escritório da empresa cliente para dar andamento ao que começara no dia anterior. Foi a manhã toda entre ligações múltiplas, interações, projetos, detalhes, etc. Mais um dia normal. Como eu não retornaria dirigindo, meu voo de retorno estava marcado para às 7:20pm.
Dei uma olhada no Google Maps para ver quanto tempo levaria ao aeroporto e comecei a mentalmente programar o restante da tarde. Eu ainda queria visitar o local da construção, e tudo precisaria andar numa sequência correta.
Meu plano era passar por volta de 1 hora lá, voltar ao escritório, pegar um Uber e chegar no aeroporto por volta de 1:45min antes do voo. Tempo suficiente, uma vez que eu já tinha feito o Check in.
Pois bem. Saindo do local da obra, andando pelo estacionamento, ouço alguém assobiando e chamando meu nome. Um pessoal que eu ainda não tinha visto ainda me chamava para que eu tirasse algumas dúvidas com eles em relação ao último andar do prédio e algumas coisas sobre a fachada.
Estava ainda nos meus planos fazer um voo de 15min com o drone ao redor do local. Já sabia que isso não iria mais ocorrer. A conversa foi se estendendo, e quando chegou no meu último minuto de tolerância, disse que tinha que sair para não perder o voo.
Até aqui tudo sob controle. Já perto do escritório, ao fazer a penúltima curva, me deparo com o trem parado sobre os trilhos. Imediatamente manobrei o carro para dar a volta. Perdi 10min, mas ainda tudo certo.
Entrei, peguei minhas coisas, tomei uma água e chamei o Uber. “Your ride will get there in approximately 6 min”. Tomei mais um gole de água, dei tchau para o pessoal, e fui me andando para fora. Dia quente na região, uns 100 F.
Estou ali esperando, olhando no celular o carro se movendo quando, não mais que de repente, ele para no mesmo lugar em que eu fizera a manobra. Pensei: “Não é possível que o trem ainda está lá parado”.
Passam mais 5 min, e outros 5. Vejo o carro se movendo, como que tomando o mesmo percurso que eu para fazer a volta. Porém, para minha surpresa, o motorista cancela a viagem. Somando a isso, meu celular atinge 5% de bateria e a tela dá aquela escurecida, enquanto eu já começo a caminhar em direção ao trem.
Chamo outro Uber, e parece que vai acontecer a mesma coisa de novo. Acelero o passo, equilibrando as 3 bolsas que estavam comigo, todas num ombro só, pois o outro lado do corpo estava dedicado a lidar com o celular e resolver a carona.
Como qualquer careca que não tem cabelo para servir de barreira à transpiração, logo, o suor começa entrar no olho. Legal demais. O outro carro, começa fazer o contorno para um lugar nada a ver, enquanto eu continuo caminhando pela curva que leva à linha do trem. Celular 4%.
Vejo o trem lá, do mesmo jeito, sem o menor sinal de que vai se mover. “É… O jeito vai ser pular… Era só o que me faltava…”
Começo a rir de mim mesmo e vou chegando no trem. Enquanto chamo o terceiro Uber, a bateria cai para para 3%. “Your ride will get there in approximately 8 min”.
Agora foi a hora de olhar para o celular para ver o percurso do carro, na torcida para a bateria não acabar, enquanto minha esposa manda mensagem no WhatsApp: “Eiiii! Responde!.
Aquele silêncio. Olhar compenetrado. Eu, de calça marrom, camisa preta, e três bolsas pretas, com essa minha aparência estilo oriente médio, subo nas escadas do trem, equilibrando todo o conjunto. Procuro a todo custo uma aba para colar a mão esquerda, mas cadê essa porcaria? Cadê?
Naquilo que já era muito estranho, um cara com uma vestimenta que parece um contractor miliciano, com três bolsas pretas, subindo num trem, fica ainda melhor quando as bolsas pretas pendem para um lado, e esse mesmo sujeito cai do trem.
Os motoristas olhando, dando voltas (não sei se querendo mesmo dar a volta, ou achando aquilo muito estranho), mas mantive firme meu objetivo.
Organizei as bolsas do jeito certo, coloquei o celular no bolso, limpei o suor da testa, escalei o trem de novo e saltei do outro lado. Eu estava indignado, mas a cena era tão cômica que eu comecei a dar gargalhadas, enquanto o pessoal do outro lado da linha só observada e olhava torto.
Caminhei até a esquina e esperei por longos outros 6min. Bateria 1%. Pensei: “Você vai ver… Faltando 2min vai acabar a bateria e aí ferrou de vez. Pular a desgraça do trem de novo, voltar andando para o escritório… Vou perder o voo. Só falta essa”.
1% de bateria na Resistência, 1min para o Uber chegar e o tem começa a se mover. Chega o carro, uma minivan com porta deslizante. A moça abre, eu literalmente me jogo la dentro: “I am in! Let’s go!”
A moça: “Bem, não é todo dia que está 100 F que alguém fica esperando numa esquina deserta… Curiosidade… Você é daqui? Mora na região?”
“Não… (sem ar) moro no Texas… (sem ar) cheguei ontem, e já voltando hoje… (respiro fundo)”
“E veio fazer o que aqui?”
“Vim aqui pular o desgraçado daquele trem ali!”
…
…
Cheguei no aeroporto exatamente 1h antes do voo, e saí correndo para o balcão afim de despachar a bolsa com o drone.
“Senhor, qual o destino?”
“DFW”
“Senhor, seu voo está atrasado em 30min. I am sorry”.
Fiquei uns 30 segundos em silêncio olhando para o atendente. Então lentamente, comecei a esboçar um sorriso.
“What is funny, sir?”
“I just jumped over a train to get here on time. Literally.”
“Well done!”
“Thanks.”